dezembro 31, 2004

apaga-se a luz do ano


apaga-se a luz do ano.
com o desejo de um 2005 mais cívico, mais ousado e mais firme.
bom ano a todos os viajantes deste mundo.

dezembro 27, 2004

tsunami


pelas vítimas do tsunami, apenas o silêncio.
a recolha de todas as dúvidas sobre a existência divina e humana.
somos uma migalha no universo.
deixo a homenagem.

dezembro 24, 2004

Natal


com um pequeno gesto os poetas soltam o seu pólen que, levado pelas palavras, vai eternamente fecundando os arcos da beleza que erguem o universo e o põem em comunicação com Deus.

Manuel Hermínio Monteiro, Rosa do Mundo

a imagem é de uma árvore iluminada e foi tirada no Castelo de São Jorge, lugar onde a esperança é sempre rasgada pelo horizonte.

dezembro 15, 2004

coisas tão felizes


entre amigo e amigo
jamais se afastam
coisas tão felizes
os instantâneos silêncios de certas formas
os protestos inocentes à nossa passagem
a natureza fortuita, dizia eu
imortal, dizias tu do vento?

Baldios, José Tolentino Mendonça

dezembro 10, 2004

antes que tu tivesses palavras


no teu amor por mim
há uma rua que começa
nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
invento-te e o céu azula-se sobre
esta (...) condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
e eu chego e sento-me
ao lado da primavera

Ruy Belo, Aquele Grande Rio Eufrates

dezembro 08, 2004

desfocada por um momento


depois de aterrar na minha terra branca depressa senti o desafio de a voltar abraçar como da última vez. sempre que a reencontro trago na alma esse rasgão de esperança e de sonho que me transporta ainda ao tão desejado império.

mas desta vez a maturidade calvinista entregou à minha realidade uma verdade que até hoje nunca tinha sentido.
a verdade de um país.

senti-me num precipício do que sou e onde quero estar, que por breves instantes me fez recordar as palavras de Ruy Belo “ o meu único país é onde estou bem” e que me fez deslizar entre a minha convicção de ternura e um novo desespero.

há décadas e décadas que se escrevem repetem os pareceres sobre a nossa Pátria e a única conclusão que a que chego sobre esse País que amo é que os Portugueses não O merecem.

por isso lusitanos não culpem o governo. Portugal não é feito de governos laranjas ou rosas, mas sim de Portugueses, de pessoas que acreditam, de vontade, de emprenho. construamos o nosso Portugal como um lugar sublime, convidativo a todos os que por lá passam.

sim estive desfocada por um momento.
mas continuarei a caminhar sobre um país lindo que precisa ainda de ser mais amado.